segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

OPINIÃO


Eu detesto casamentos

LULIE MACEDO
editora de Suplementos
Não sou contra se casar. Só não suporto casamentos. Sim, são coisas diferentes. Repare.
Casamento, por definição, implica cerimônia, civil e/ou religiosa. A fórmula, seja qual for a matriz, está pronta há milênios, devidamente preservada nos genes femininos (sorry, girls) e fermentada por cinderelas, barbies, tias, mães, amigas e princesas britânicas.
Para quem opta por esse caminho, basta esperar até que sua mão seja reivindicada pela Pessoa Certa e um mundo de possibilidades em branco, rosa-bebê e off-white se descortinará. É evidente que o sonho terá tamanho proporcional ao de seu saldo, mas quem se importa? Para a sorte dessa indústria, não será hora de regular mixaria.
Bruno Oliveira/Divulgação
A receita do Dia Mais Importante da Sua Vida serve a todos os credos e classes, mas, ufa, pode ser customizada. Praia, campo ou bufê? Véu e grinalda ou só um buquezinho? Renda? Cetim? Bolo de nozes ou gianduia? A você será dado o privilégio da escolha --desde que ela conste do catálogo.
Não pense que escapam do rebanho os que resolvem fazer algo "superalternativo". Casamento na boate com DJ e luz estrobo pode ser tão careta quanto o "sim" na igreja se isso não for genuíno para os dois. São variações do mesmo tema.
Casar-se é outra coisa. Implica, além de coragem -e paciência, e criatividade antirrotina etc., etc.-, misturar voluntariamente a sua vida com a de outra pessoa, sob os riscos e as bênçãos do Imponderável.
É o oposto do que acontece numa cerimônia de casamento: não dá pra escolher todos os detalhes, não tem roteiro, ensaio, organizador e muito menos aquele docinho de leite no final -cujo nome não menciono porque também acho cafona.
Pode tirar o cavalinho da chuva quem já me chamou de azeda, mal-amada ou coisa pior. OK, tive lá meus erros e acertos, como qualquer um. Mas isso nada tem a ver com esta história.
O que defendo é bem simples: sim, cumpram-se os ritos. É bobagem pular essa etapa em nome de uma rebeldia besta, anti-establishment ou sei lá o quê.
O momento de misturar a sua vida com a de alguém é muito importante, e isso precisa ser registrado de alguma maneira.
Mas que seja feita a sua vontade. Se daminhas de honra e alianças não te dizem muita coisa, vale qualquer outra --com exceção daquelas festas em que cada amigo ou parente fala algo sobre o os noivos; isso só funciona no cinema e olhe lá, para o resto de nós costuma ser constrangedor.
Também não precisa ser altar ou nada. Assim como cada casal tem seus próprios códigos e "nhenhenhéns", há um tipo de cerimônia para cada dupla.
Uma noite em claro no apartamento, ainda vazio, com vinho caro em copinhos plásticos. Um piquenique. Um mergulho em queda livre ou em águas profundas. Um jantarzinho. Um rega-bofe nababesco. Um brinde com champanhe na banheira --um amigo jura que se casou assim.
O que vai fazer com que vocês acordem no dia seguinte com as vidas oficialmente misturadas será a fórmula de vocês dois, e de mais ninguém.

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