Família não consome industrializados ou alimentos com conservantes
ANA TEREZA CLEMENTE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Omar tem quatro anos. Ele já se interessa pela definição das cores da
reciclagem de lixo, embora, perguntado à queima-roupa, titubeie, para depois
sair desfiando qual delas serve para o quê. Embaralha os significados: diz que a
vermelha "é de garrafa", mas sobre a cor verde é a única resposta que dá com
certeza: "Não sei". COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
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Quanto mais você compra, mais lixo você tem
Omar é o filho mais velho da família de Nagib Nassif Filho, 36, publicitário, e Kerima Helu Nassif, 37, arquiteta, e irmão de Samir, dois anos.
Na escola, e com os pais, Omar aprendeu a identificar o símbolo da reciclagem, e quando viu um adesivo em formato de coração em um carro perguntou à mãe: "É amor reciclado?".
Kerima acha que o filho faz parte de uma geração que já tem, naturalmente, a consciência de que é melhor poupar energia e diminuir o consumo de água, por exemplo. "Omar diz: 'Olha, a luz está acesa, vamos apagar', quando não há ninguém naquele lugar da casa." Os irmãos tomam banho juntos, e aproveitam esse momento para fazer xixi --ato que diminui a quantidade de descargas.
A família Nassif, aqui retratada para exemplificar o consumo de uma família de classe média por uma semana, poderia ser considerada, à primeira vista, ecologicamente correta: não toma refrigerante, guarda em garrafa PET o óleo já usado para descartar em local certo, pede para embalar os produtos comprados no supermercado em caixas de papelão, pesquisa endereços para fazer feira sem agrotóxicos.
Marlene Bergamo/Folhapress | ||
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Kerima Helu Nassif e sua família com os alimentos consumidos em uma semana |
Em casa, porém, Kerima admite que não recicla papel nem lixo, porque no prédio onde mora, em Higienópolis, não há coleta seletiva. "É um erro, eu sei, mas é complicado guardar lixo e levar para algum lugar depois", diz. "Nunca vi um caminhão de coleta seletiva por aqui", confirma Nagib, "e sei que estou sendo preguiçoso de não ir até o supermercado e levar o lixo lá."
Por ser publicitário, Nagib se acha mais consumista que a mulher, e a justificativa é que precisa "estar antenado" com o mercado e que tem "encanto por embalagens". Por ficar menos tempo com as crianças, ele quer agradar, e compra mais de uma dezena de bichinhos por vez --todos embalados em saquinhos plásticos--; Kerima se diz mais controlada na hora de consumir.
Outro ponto de discordância entre eles é na hora do banho. Nagib fica no chuveiro entre dez e 15 minutos, Kerima gosta de banhos rápidos, principalmente em dias frios. "Penso muito no banho, é o momento em que tenho ideias", diz ele.
No ano passado, Nagib fez uma campanha para o Instituto Akatu, de consumo consciente, sobre o uso de sacos plásticos e, a partir daí diz que passou a refletir mais sobre o uso dessa embalagem. "É fato, saco plástico voa e entope bueiros", diz.
"O ritmo de vida leva você a não ter raciocínio ambiental, mas tento me policiar e passar bons exemplos aos meus filhos."
O casal faz críticas à pouca infraestrutura que existe na cidade, como falta de lixeiras nas ruas, e nos supermercados, já que frutas e verduras têm de ser pesados isoladamente em sacos plásticos, e carne e frango vêm embalados em bandejas de isopor e papel-filme. Kerima ainda chama a atenção para a quantidade de papel emitida no ato da compra: "Um comprovante para o consumidor, um para o supermercado, outro para o cartão de crédito. Para quê?".
Por questões econômicas, a família tem um carro só. Cabe a Nagib andar de bicicleta: ele vai e volta de Higienópólis até a Vila Madalena, onde trabalha, pedalando.
"Eu me exercito, não pego trânsito e ainda colaboro para diminuir a poluição." Nagib acredita que ter uma vida mais comprometida com o futuro do planeta "está nas pequenas coisas", e que se cada um pensar "eu sou mais um", a onda do consumo consciente poderá crescer.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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