Papo de Homem | O Atacama é generoso | Na Estrada #15 + 2 novo(s) post(s) | ![]() |
- O Atacama é generoso | Na Estrada #15
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- E se a gente tivesse que imprimir a Wikipedia?
Posted: 27 Aug 2013 09:51 PM PDT
Vamos buscando a emoção
que não podemos encontrar neste tédio sempre igual que nos envolve o coração.
– trecho de “A Emoção Fugitiva“, de Pablo Neruda
![]() Reza a lenda que há séculos e séculos, no auge do império Inca em território chileno, a fúria dos deuses caiu impiedosa sobre eles. O temível espírito do vulcão Licancabur rugiu, lambendo povoados inteiros com sua lava escaldante. Para apaziguar sua ira, os nativos subiram os seis mil metros de sua extensão, carregando incontáveis pedras e presentes em suas costas. Chegando ao topo, rezaram. O vulcão lhes concedeu tranquilidade. Até hoje, os descendentes desses nativos prestam reverência a Licancabur, mantendo oferendas em seu pico. * * * Colocar os pés no Deserto de Atacama é paz. A mais árida região do planeta se comunica pelo silêncio. Suspeita-se que os únicos pedaços de chão sem qualquer traço de vida estejam por lá, nos entornos da mina abandonda de Yungay. O terceiro maior salar do mundo é lá, também. Três mil quilômetros quadrados de horizonte sem fim, com lhamas perdidas e flamingos róseos se alimentando em lagoas de enxofre. Uma gigantesca mão esculpida pelo artista e filósofo chileno Mario Irarrázabal emerge da areia, o deserto está vivo. A paisagem extrema é estranhamente acolhedora. Sem nada ou ninguém em volta, não há porque posar. É mais fácil me sentir confortável em minha própria pele, e pequeneza, tendo bilhões de anos em terras sedimentadas à minha volta. Quase como se estivesse no colo de um tataravô distante, bastante calejado por algumas diferentes eras geológicas, dinossauros e até um ou outro ET. Dá alguma inveja das tribos atacameñas e suas pucarás, fortificações dos tempos pré-hispânicas nas quais habitavam. Ainda que lutassem para seguir vivos em meio aos inóspitos Valle de La Luna e Vale da Morte – locais nos quais a NASA realiza testes de seus robôs interplanetários –, gosto de pensar que eram felizes em sua solitude. A noite ganha outros tons. O céu mais estrelado que se pode ver disputa sua atenção com ventos gélidos, cortantes. Link Vimeo Em sua aridez escancarada, o deserto facilita olhar para nossa própria tristeza sem nos sentirmos sós. Afinal, ele está desde muito antes e vai seguir por muito mais. Solidão se transforma em solitude. Na última madrugada antes de voltar a São Paulo, me deito na gelada espreguiçadeira do hotel Kunza debaixo de muito céu, estrelas e silêncio. Fica fácil entender a reverência dos nativos diante do vulcão Licancabur e todo o resto. Adiós, Atacama. * * * Comecei a redigir esse texto ainda no Chile, semana passada. A viagem foi feita a convite da Ford, para conhecer sua nova linha de caminhões Cargo Extra-Pesados. Compartilho agora outras fotos da viagem: ![]()
Cenas da insólita casa de Pablo Neruda em Santiago, que visitamos antes do deserto
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Um dos muitos bares na casa de Neruda, onde gostava de receber amigos como Vinícius de Moraes e Niemeyer
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Bem-vindo ao Atacama (foto por Rafael Rosa)
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Energia eólica em ação
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A expedição – doze caminhões e dezenas de veículos da imprensa convidados
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Cortando a paisagem
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Equipamento de telemetria que nos deram para acompanhar o desempenho dos caminhões
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“É uma cilada, Bino!”
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Hotel Kunze, onde nos hospedamos
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O Salar do Atacama, horizonte de tirar o fôlego
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Ao fundo, o poderoso vulcão Licancabur
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