sexta-feira, 23 de agosto de 2013

GENTILEZA NÃO SUBESTIMAREM A NOSSA INTELIGÊNCIA


21/08/2013
às 20:48

Padilha manobrou para fazer o que sempre quis: traficar escravos cubanos e repassar milhões por mês à ditadura comunista

É uma pantomima! O governo tinha um plano de importar 6 mil médicos cubanos, que passariam (como passarão!) a atuar no Brasil sem qualquer exame ou validação do diploma. Para resolver um problema do nosso país? Mais ou menos. Há, com efeito, falta de médicos. Mas é certo que o governo do PT vai mesmo é repassar R$ 40 milhões por mês à ditadura comunista.
A Venezuela importou milhares de médicos de Cuba. Chegou a hora de uma boa parcela voltar para a casa, mas a ditadura comunista mal tem onde alojá-los e quer manter, acreditem, a receita decorrente do seu trabalho. Então por que não o Brasil? Pois é…
Quando Padilha anunciou a decisão, a classe médica brasileira reagiu. O governo, então, fingiu um recuo — mas era só uma tática, vê-se agora. Afirmou que a prioridade seria importar médicos da Espanha e de Portugal e apresentou sua esdrúxula proposta de aumentar em dois anos a graduação, obrigando os estudantes, nesse tempo, a atuar no sistema público de saúde. Sem isso, nada de diploma.
Escrevi, então, no dia 8 de julho de 2013  um artigo sobre o assunto. Tratava-se de um projeto autoritário. Se era razoável que o governo fizesse alguma exigência a estudantes de escola pública ou que fossem beneficiados pelo crédito estudantil, com que legitimidade buscaria impor a mesma disciplina a alunos da escola privada, por exemplo? A reação foi a pior possível, e o governo recuou de novo. Os cubanos continuavam na manga do colete.
O programa “Mais Médicos” fez, então, as inscrições para preencher as ditas 15.460 vagas — e os inscritos chegaram apenas a 10,5% (1.618) do total. Desses 1.6180, 67,7% são brasileiros. Os demais são estrangeiros. Grande truque o do ministro Alexandre Padilha! Ele queria médicos cubanos, e a reação foi negativa? Então ele recuou. No lugar, veio a estúpida ideia de estatizar os estudantes de medicina. Como era uma proposta pior do que a outra, deu-se o novo recuo.
Atenção! É importante notar que o governo não criou um miserável programa para incentivar a interiorização dos médicos brasileiros. Foi tudo na base do gogó. O que Padilha preparou, nesse tempo, foi mesmo a criação das condições objetivas para que voltasse a seu plano original: trazer os cubanos.
Mão de obra escrava
É importante salientar que o contrato do governo brasileiro com médicos espanhóis, portugueses ou de qualquer outro país é celebrado com cada profissional. No caso dos cubanos, o pagamento será enviado à ditadura cubana, que, então, se encarregará de pagar os profissionais — que continuarão a obedecer às ordens daquele regime. É um escândalo: o Brasil pagará R$ 10 mil por médico, e Cuba repassará a cada profissional quanto bem entender — na Venezuela, era quase uma ajuda de custo. Os familiares dos profissionais que foram “exportados” para o regime de Chávez, por exemplo, ficaram na própria ilha, para impedir a deserção. O mesmo acontecerá com os que vierem para o Brasil — até porque eles não teriam como sustentá-los aqui. A ilha comunista transformou seus médicos numa fonte de renda. Entre trabalhar por uma ração em seu país e a chance de ganhar algum dinheiro, ainda que miserável, no exterior, preferem a segunda opção. Atenção: só esse lote de 4 mil médicos renderá à ilha R$ 40 milhões por mês. Ainda mais grave: na Venezuela, os médicos cubanos obedecem ao comando de… cubanos! A qualquer momento, os considerados rebeldes podem ser enviados de volta a seu país, sendo substituídos por outros. 
Vamos ver como vai atuar o Ministério Público do Trabalho no Brasil. O trabalho similar à escravidão não pode ser exercido em solo brasileiro por nativos ou por estrangeiros. O fato de Cuba escamotear essa prática com o manto da ideologia, ou sei lá do quê, não muda a sua essência. Na Venezuela e no Brasil, a forma de contratação dos médicos viola a Convenção 29 da Organização Internacional do Trabalho.
Finalmente…
Noto o óbvio. Se os médicos cubanos são competentes, por que dispensá-los de fazer um exame ou uma prova de validação do diploma? Se teriam dificuldade nessa prova, como, então, contratá-los?
Escrevo este texto para deixar claras duas coisas, que não podemos perder de vista:
a: Alexandre Padilha manobrou para fazer o que sempre quis: importar os cubanos;
b: da forma como se dará a contratação, a gestão do PT está institucionalizando uma variante do trabalho escravo no Brasil.
FinalmentePadilha só anunciou nesta quarta a importação dos 4 mil cubanos. Os primeiros 400 já chegam neste fim de semana. Vale dizer: Padilha jamais recuou. Enquanto fingia que sim, tomava as providências para importar os escravos de Fidel e Raúl Castro.
Por Reinaldo Azevedo

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

ESSA É A MENTALIDADE DESSA ELITE PODRE

Supermercado Pão de Açúcar causa revolta após instalar manequim negro com os pés acorrentados

Revolta. Estátua de criança negra acorrentada causa indignação nas redes sociais
Revolta. Estátua de criança negra acorrentada causa indignação nas redes sociais Foto: Reprodução Internet
O GLOBO
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RIO - Estátua de um manequim negro com os pés acorrentados, instalada na unidade do supermercado Pão de Açúcar, no bairro da Vila Romana, em São Paulo, está causando revolta nas redes sociais desde o dia 19 de agosto.
A comunidade negra se sentiu ofendida e considerou de extremo mau gosto a imagem de uma criança negra sendo utilizada para “decorar” a área destinada a produtos de panificação do supermercado. Após a foto ser postada no perfil Mundo Negro, uma enxurrada de comentários indignados se espalhou pelo Facebook. Entre as razões apra a revolta, a imagem da criança negra carregando um pesado cesto de pães faz apologia ao trabalho infantil, já que o cesto é de proporções incompatíveis à estatura da criança e seria um sacrifício seja pelo tamanho ou pelo peso para ser carregado.
Além disso, revotou a inclusão de grilhões no pé da criança, rementendo à escravidão, além da infeliz escolha, por usar, mais uma vez, uma criança negra nestas condições ser utilizado para “decorar” uma área de grande circulação do supermercado.
Apesar de o perfil da empresa no Facebook já ter se desculpado pela gafe infeliz e informado que o objeto já havia sido retirado da loja, os protestos - e críticas - na rede social continuam.


Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/economia/supermercado-pao-de-acucar-causa-revolta-apos-instalar-manequim-negro-com-os-pes-acorrentados-9655716.html#ixzz2ciNYOQxy

terça-feira, 20 de agosto de 2013

ESSE É O RESULTADO DA ARROGÂNCIA E PREPOTÊNCIA DE PESSOAS DESPREPARADAS PARA LIDAR COM GENTE. NA CERTA ESSE COMANDANTE É UM INFELIZ.

'Meu filho sofreu preconceito por ter sua pele diferente', diz Clara Colker


Filha da coreógrafa Deborah Colker relata o que passou em voo da Gol cujo comandante se recusava a decolar por causa de uma doença de pele não contagiosa de Theo, 4 anos


20 de agosto de 2013 | 11h 39
O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Em sua página no Facebook, Clara Colker, filha da coreógrafa Deborah  Colker, publicou relato do que se passou no voo 1556, da Gol, em que viajavam nessa segunda-feira, 19, no trecho de Salvador ao Rio. O comandante da aeronave se recusou a decolar por causa de uma doença de pele (epidermólise bolhosa) não contagiosa de Theo, que completa 4 anos nesta quarta-feira, filho de Clara. Deborah disse que vai processar a companhia.
"Meu filho foi discriminado, violentado verbalmente. Sofreu preconceito por ter sua pele diferente", disse Clara no Facebook. "Meu filho tem machucados pelo rosto. Sua imagem desperta curiosidade, atenção, olhares como qualquer um outro que não se encaixa nos padrões. Mas e aí?! Qual é o problema disso? Penso que por ter tais fragilidades deva ser recebido pela sociedade com respeito, amor, zelo, carinho".
Leia o depoimento:
"Saímos na sexta-feira do Rio para Salvador, pela Gol, sem o menor problema.
Na volta para o Rio, no Check-in a moça me perguntou o q havia com meu filho.
Falei q tinha Epidermólise Bolhosa, um problema de pele. OK. Seguimos para nosso portão, em direção à aeronave.
Passamos pela polícia, novamente pela atendente da Gol. Td OK.
Estava sentada ao lado da minha mãe e do meu filho dentro do avião, ...já nos nossos assentos, td ok, acomodados. Meu marido sentado na mesma fila no outro lado do corredor, bem pertinho da gente.
Um funcionário veio até mim e perguntou: - vc tem atestado?
Falei: - do q? Ele disse: - Disso (apontando para meu filho). Do médico da criança. (apontando na cara do meu filho).
Falei: - ele está bem, tem um problema genético, de pele. sou mãe dele e responsável por ele. ele está bem e pode viajar.
A abordagem foi super esquisita, meio agressiva, totalmente indelicada mas me controlei...
Insatisfeito, o funcionário foi até a cabine. Voltou uma mulher, outra funcionária. O constrangimento começou a piorar. Falei em tom já ríspido:
- Ele eh o meu filho tem epidermólise bolhosa e não tem problema nenhum em viajar. sua doença não eh contagiosa e ele está bem.
Ja viajei inúmeras vezes c/ ele para dentro e fora do Brasil. Nunca passei por isso. Basta olhar para mim, p/ pai e para a avó q vivem agarrados nele e não têm nada na pele.
Mesmo assim, a funcionária como se não estivesse ouvindo o q eu falava, dizia ainda na frente do meu filho:
- precisa de um atestado médico dessa criança senão ele não poderá viajar neste voo!
(eu pensava: pq escolheram meu filho! qual o critério para essa abordagem?????)
Neste instante falei p/ Pedro (meu marido) filmar o q ela ia dizer. Na hora, ela disse q não falaria se fosse filmada e q não poderíamos filmar. Na frente da câmera ela não falaria conosco.
Neste instante uma mulher a 3 filas de distância da nossa grita p/ mim: - chama o Ministério Público! Isso eh preconceito e discriminação!
Comecei a chorar. Já estava mt nervosa. O Theo vendo isso tudo. Surreal. O avião todo já participando da situação, as pessoas nos olhando.
Um constrangimento inacreditável. Meu filho me olhando, uma criança de 3 anos passando por isso. Aquele avião fechado, as pessoas sem sair nem entrar, tudo em torno da gente.
A funcionária saiu. Ficou 10 minutos fora. Jurava q o avião seguiria viagem e ainda pensei: deviam vir pedir desculpas p/ Theo e para mim...
Volta a funcionária dizendo q o avião só vai partir com aval de um médico. As pessoas começaram a se manifestar.
Minha mãe q até então estava controlada, se levantou e disse:
- agora me tiraram do sério! Estava tentando me controlar mas não dá! Isso não existe! O que estão fazendo com meu neto!
(Foi ficando pior. Inacreditável. Só ia crescendo a implicância com o Theo, o incômodo. meu aperto ali. desumano o q estava acontecendo.
Afinal de contas, meu filho passaria por uma análise de um médico q iria até nosso assento para avaliá-lo! Surreal! E a situação para uma criança de 03 anos?!
Como assim! Já tinha dito o q ele tinha!
Qd o médico da Infraero entrou no avião minha mãe estava lá na frente da aeronave, discutindo na cabine, e fui até o médico tb, falamos:
- ele tem uma deficiência genética! Epidermólise bolhosa!
E o médico fala:
- Ah... Epidermólise bolhosa! Não tem problema nenhum o menino viajar! é uma doença de pele...
senti até o médico constrangido! com vergonha da situação.
o médico foi acionado por uma situação de emergência, como se estivesse indo socorrer um passageiro q estava passando mal dentro do avião.
Nesse momento, a Polícia Federal tb estava na porta do avião, dois agentes foram acionados; querendo retirar minha mãe, meu filho, eu e meu marido do avião e disse q tinha q cumprir ordens da empresa aérea GOL.
Fiquei mt irritada e falava q naquela tripulação só tinham ignorantes, agressivos. Minha voz mudou, fiquei fora de mim. mal. fiquei leoa, tava mt chateada com o q estavam fazendo com o meu filho.
Nunca senti uma coisa tão ruim. Um preconceito e discriminação tão grande. Em 04 anos q sou mãe do Theo, já sofri à beça, demais. Ando na rua já acostumada a ser bombardeada por olhares curiosos mas nunca tinha sentido uma agressão, violência mesmo, tão grande com ele. o dedo na cara dele, sem a menor piedade. nenhum funcionário daquela tripulação pensou no constrangimento q estavam proporcionando àquele menino de 03 anos. ninguém pensou no peso q estavam colocando na cabeça daquela criança, que é meu filho!
O cenário dentro do avião era: quase tds passageiros em pé, totalmente indignados, vindo falar comigo, com meu filho. Mt solidários. Super chateados com a atitude da tripulação da GOL.
Mts tinham conexão e estavam perdendo suas conexões.
Ja tinham uns 40 min de atraso e o circo ainda estava montado.
O médico foi falar com o comandante. Disse q estava td OK q o Theo podia viajar numa boa.
Mesmo assim o comandante, frio e grosseiro, disse q nós só viajaríamos se apresentássemos um atestado médico por escrito.
Uma outra médica, passageira, q participava da discussão na frente do avião, tb foi falar com o comandante, esclarecer que o menino tinha EB e q estava td certo com ele...
Mas o comandante queria o atestado!
Meu marido sugeriu que o médico da INFRAERO fizesse um atestado, de próprio punho, ali dentro do avião.
O médico andou em direção a meu filho, olhou ele a cerca de uns 3 metros de distancia, durou menos de 10 segundos a análise dele, retornou e deu atestado em um papel qualquer branco sem nada timbrado.
O médico estava sem o carimbo (afinal de cts veio por uma emergência, para socorrer o suposto paciente q passava mal na aeronave, uma situação de emergência).
Então, tivemos q esperar mais 20 minutos para q o médico trouxesse o carimbo para finalizar o "atestado".
Minha vontade era descer do avião na hora estava com nojo, com receio;
qd disse - quero sair daqui...
a mesma mulher, a primeira a gritar sobre o Ministério Publico, disse q se nós saíssemos do avião tds desceriam conosco.
Que todos estavam com nossa família. Me sensibilizei demais.
Estavam TDS as pessoas do avião super solidárias, preocupadas com o constrangimento com o Theo. Vinham fazer carinho nele, brincar com ele e falar comigo.
Resolvi ficar no avião. Nisso já passava 1hora de atraso e o constrangimento muito grande. Theo me viu chorando de novo.
Tentei disfarçar q o avião não estava atrasado por causa dele... sei q ele percebeu. impossível não perceber.
Duas meninas vieram até mim com 3 papéis na mão, nos papéis tinham os nomes, telefones e e-mails de tds q estavam sentados nos assentos, um pouco afastados de nós e solidários com a causa, dizendo q qq coisa q precisássemos, poderíamos contar com eles.
O comandante avisou q o avião iria partir. Voamos para o Rio.
Chegaria no Rio 13h50. Chegamos no Rio às 16h10.
No táxi, no caminho de casa, perguntei:
- Theo, vc viu o q estava acontecendo no avião?
Ele respondeu:
- Tava todo mundo olhando pra mim, falando de mim.
Falei:
- filho, só aquelas poucas pessoas chatas falavam de vc, da sua pele, todos os outros do avião foram nossos amigos.
Ficaram do nosso lado, com a gente.
Fazendo esse relato, tenho ainda mais dimensão do que aconteceu. Parece cena de filme, parece irreal. Não dá para aceitar que isso foi feito com o Theo.
Não dá para admitir tamanha desumanidade (se é q existe essa palavra!). Tem um lado q é minha dor de mãe, de ver meu filho, minha cria, viver isso. Racha meu coração.
Tem outro lado cidadã q não acredita q vivenciou essa situação. Preconceito puro, rasgado. Na cara!
Meu filho tem machucados pelo rosto. Sua imagem desperta curiosidade, atenção, olhares como qq um outro q não se encaixa nos padrões. Mas e aí?! Qual é o problema disso?
Penso q por ter tais fragilidades deva ser recebido pela sociedade com respeito, amor, zelo, carinho. Além disso é uma criança. Enquanto estou aqui colocando minha raiva para fora, verbalizando essa situação, ele está com ela dentro dele. sem "colocar para fora", sem exorcizar essas angustias... Como é isso? q danos tem isso para ele? como será viajar de avião novamente? ele irá enfrentar?
Como será estar num ônibus, em um local fechado? Ele vai se sentir como? Depois de ter passado por um avião inteiro, cheio de gente, no maior rebuliço olhando para ele, gritando seu nome, gritando as palavras: doença, pode, não pode, o q é q o garoto tem?! Eu não sei. Eu tô me sentindo muda, angustiada, presa num presente q me dá medo do futuro.
Nunca imaginei uma empresa fazer isso com alguém. Nunca imaginei uma empresa fazer isso com uma pessoa. Nunca imaginei uma empresa fazer isso com uma criança de 03 anos. Theo faz 04 anos depois de amanhã (quarta-feira).
A indicação para alguém q tem Epidermólise Bolhosa é levar uma vida normal, a mais normal possível. Meu filho vai à escola, tem amigos, brinca, uma família q o ama mais do que tudo.
Pessoas que lhe tratam com mt amor. A vida dele por si só é sofrida para caramba. O banho é desesperador. Comer dá trabalho, as coceiras à noite, curativos diários e constantes etc, etc etc...
Tudo o q ele precisa é de respeito, carinho, cuidado. Não só ele como qq portador de EB. Lidar com a estética deles já é difícil pois tem machucadinhos em todo o lugar do corpo.
é uma doença rara mas q mt gente tem e tem milhares de sites na internet, no wikipidia, etc. é mt fácil saber sobre a doença. Nunca que Theo deveria passar por isso.
Ele chegou em casa 3 horas depois do previsto, deixou de tomar os remédios na hora certa, não almoçou. Se coçou à beça durante o voo. Um voo q duraria 02 hs durou 4hs.
Meu filho foi discriminado, violentado verbalmente. Sofreu preconceito por ter sua pele diferente."


PENSE NISSO...

A hipocrisia de ações ‘filantrópicas’ como o Criança Esperança

Paulo Nogueira 13 de agosto de 2013
Dar com uma mão e pegar muito mais com a outra é indefensável moralmente.
O programa arrecada menos de 0,5% do que a Receita Federal está cobrando da Globo
O programa arrecada menos de 0,5% do que a Receita Federal está cobrando da Globo
Imposto é um dos temas mais quentes do mundo moderno, e o Diário tem coberto o assunto intensamente.
Nos Estados Unidos, por exemplo. Barack Obama usou isso como uma arma para atacar seu adversário republicano Mitt Romney. Romney é um homem rico, mas tem pagado bem menos imposto, proporcionalmente, do que um assalariado comum.
Obama o desafiou a publicar o quanto ele pagou nos últimos cinco anos. Se ele fizesse isso, Obama jurou que não tocava mais no assunto. Romney não fez, e se estrepou nas eleições.
No mundo, agora. Um levantamento de um instituto independente chamado TJN mostrou, em 2012, que mais de 30 trilhões de dólares estão escondidos em paraísos fiscais, longe de tributação. Se aquela cifra descomunal fosse declarada, ela geraria impostos de mais de 3 trilhões, considerada uma taxa (modesta) de 10%.
Lembremos. Imposto é chato e ninguém gosta, nem você e nem eu. Mas é com ele que governos constroem escolas, estradas, hospitais etc. Logo, eles são do mais absoluto interesse público.
­­Agora, o Brasil.
Uma notícia espetacular, a despeito do número esquálido de linhas, foi publicada há algum tempo na seção Radar, de Lauro Jardim, da Veja: a Globo, o Paraíso dos “PJs” está sendo cobrada em 2,1 bilhões de reais pela Receita Federal por impostos que alegadamente deveria recolher e não recolheu.
Segundo o Radar, outras 69 empresas foram objeto do mesmo questionamento fiscal. Todas acabaram se livrando dos problemas na justiça, exceto a Globo. Chega a ser engraçado imaginar a Globo no papel de vítima solitária, mas enfim.
Em nome do interesse público, a Receita Federal tem que esclarecer este caso. É mais do que hora de dar um choque de transparência na Receita – algo que infelizmente o governo Lula não fez, e nem o de Dilma, pelo menos até aqui.
Se o mundo fosse perfeito, a mídia brasileira cobriria a falta de transparência fiscal para o público. Mas não é. Durante anos, a mídia se ocupou em falar do mercado paralelo.
Pessoalmente, editei dezenas de reportagens sobre empresas sonegadoras. A sonegação mina um dos pilares sagrados do capitalismo: a igualdade entre os competidores do mercado. Há uma vantagem competitiva indefensável para empresas que não pagam impostos. Elas podem investir mais, cobrar menos pelos seus produtos etc.
Nos últimos anos, o assunto foi saindo da pauta. Ao mesmo tempo, as grandes corporações foram se aperfeiçoando no chamado “planejamento fiscal”. No Brasil e no mundo. O NY Times, há pouco tempo, numa reportagem, afirmou que o departamento contábil da Apple é tão engenhoso quanto a área de criação de produtos. A Apple tem uma sede de fachada em Nevada, onde o imposto corporativo é zero. Com isso, ela deixa de recolher uma quantia calculada entre 3 e 5 bilhões de dólares por ano.
Grandes empresas de mídia, no Brasil e fora, foram encontrando jeitos discutíveis de recolher menos. Na Inglaterra, soube-se que a BBC registrou alguns de seus jornalistas mais caros, como Jeremy Paxton, como o equivalente ao que no Brasil se chama de “PJ”. No Brasil, muitos jornalistas que escrevem catilinárias incessantes contra a corrupção são “PJs” e, aparentemente, não vêem nenhum problema moral nisso. Não espere encontrar nenhuma reportagem sobre os “PJs”.
Os brados contra a sonegação deixaram de ser feitos pela mídia brasileira quando as empresas aperfeiçoaram o ‘planejamento fiscal’ — uma espécie de sonegação legalizada, mas moralmente imoral.
O dinheiro cobrado da Globo – a empresa ainda pode e vai recorrer, afirma o Radar – é grande demais para que o assunto fique longe do público. A Globo costuma arrecadar 10 milhões de reais com seu programa “Criança Esperança”. Isso é cerca de 0,5% do que lhe está sendo cobrado. Que o caso saia das sombras para a luz, em nome do interesse público – quer a cobrança seja devida ou indevida.
A Inglaterra não apenas está publicando casos de empresas que pagam muito menos do que deveriam, como Google e Starbucks, como, agora, nomeou os escritórios de advocacia mais procurados por corporações interessadas na evasão legal.
De resto, a melhor filantropia que corporações e milionários podem fazer é pagar o imposto devido. O resto, para usar a grande frase shakesperiana, é silêncio.

DEMORÔ !

TV, geladeira, fogão, computador e celular terão troca imediata

SHEILA D'AMORIM
DE BRASÍLIA
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Após cinco meses de embate com os empresários, o governo decidiu incluir celular, computador, TV, geladeira, máquina de lavar e fogão na lista dos chamados produtos essenciais, que terão regras mais rígidas para a solução de defeitos de fabricação.
Segundo a secretária nacional do consumidor do Ministério da Justiça, Juliana Pereira, que coordena os debates, a proposta atual prevê que as cidades do interior tenham prazos diferenciados para reparo dos produtos.
Nas capitais e nas regiões metropolitanas, o limite para a solução do problema deverá ser de aproximadamente dez dias úteis. Para o restante do país, de 15 dias úteis.
A regra será aplicada aos produtos da lista que apresentem defeitos até 90 dias depois de adquiridos.
Quando entrar em vigor, quem descumprir a norma estará sujeito às multas previstas no CDC, que variam de
R$ 200 a R$ 6 milhões.
Prevista inicialmente para abril, a lista que regulamenta artigo do Código de Defesa do Consumidor (CDC) foi negociada com representantes do varejo e da indústria e será apresentada aos Procons nesta semana. Depois disso será encaminhada pelo ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) para aval da presidente Dilma Rousseff, a quem caberá a palavra final.
DIFICULDADE
O arranjo com prazos diferentes inicialmente desagradou à própria secretária, mas, segundo ela, foi necessário para chegar a um entendimento com a indústria, que reclamou da dificuldade de manter estoques disponíveis e garantir a troca num prazo curto em todo o país.
Hoje, o código garante às empresas prazo de 30 dias para solucionar o problema. Somente a partir daí o consumidor pode escolher se quer a troca, a restituição da quantia paga ou o abatimento do valor para compra de outra mercadoria.
A exceção são os chamados "produtos essenciais", em que essa escolha pode ser feita de forma "imediata". No entanto, 23 anos depois da aprovação do CDC, isso não foi regulamentado.
"Acho que ainda está longo [o prazo], mas é um avanço", disse Pereira. "Os produtos não são comprados para decoração, mas para uso, e ficar sem usá-los é um problema para qualquer cidadão."

Depois da publicação do decreto, o varejo e indústria terão seis meses para se adequar à nova regra. Com isso, só deverá entrar em vigor no início do ano que vem, praticamente um ano depois de a presidente Dilma ter lançado, em março deste ano, o Plano Nacional de Consumo e Cidadania, em que a implementação da lista era uma das poucas novidades. 

O DIREITO À TERRA AINDA É SAGRADO

Embate das Justiças

STJ definirá conflitos de terra de quilombolas em SP

O destino de um terreno em Ubatuba (SP) que está ocupado por uma comunidade remanescente de quilombo será definido pelo Superior Tribunal de Justiça. A 1ª Seção do tribunal decidiu, em Conflito de Competência, suspender a tramitação da execução de uma reintegração de posse em trâmite na Justiça estadual de São Paulo e de uma Ação Civil Pública na Justiça Federal do estado até que determine de quem é a competência para julgar a matéria. O Conflito de Competência foi levado ao STJ pelo Ministério Público Federal de São Paulo.
A situação do terreno opôs, mais uma vez, as Justiças Federal e estadual em São Paulo. O particular João Bento de Carvalho obteve, em 1984, sentença de reintegração de posse de um terreno no litoral norte do estado, mas ficou mais de 30 anos sem tentar fazer cumprir a decisão. Em 2005, a comunidade, que ocupa o terreno — e que já o ocupava nos anos 1980 — foi reconhecida como remanescente de quilombo e, em 2008, foi ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para que impedisse o despejo.
O Incra tentou ingressar no caso em trâmite na Justiça estadual, mas teve os pedidos indeferidos. A saída encontrada foi tentar tornar sem efeito prático a decisão estadual. Ajuizou Ação Civil Pública na Justiça Federal de Caraguatatuba para que a posse do terreno fosse repassada à União, a quem compete administrar as terras ocupadas por comunidades quilombolas.
Foi concedida liminar em favor do Incra e aí começaram as disputas a Justiça estadual e a Federal. O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Ivan Sartori, enviou ofício ao comando da Polícia Militar em Ubatuba para que desse “todo o apoio necessário” à reintegração de posse da terra a João Bento de Carvalho. Do mesmo modo, a Polícia Federal estava orientada a dar o apoio necessário ao cumprimento da liminar da 1ª Vara Federal de Caraguatatuba.
Os ânimos foram apaziguados com uma liminar em Agravo de Instrumento interposto pelo Incra, proferida pelo desembargador Francisco Giaquinto, do TJ-SP. A decisão foi suspender o andamento da reintegração até que a 13ª Câmara de Direito Privado, da qual Giaquinto faz parte, discuta o mérito da questão.
Nesse meio tempo, o Ministério Público Federal em São Paulo preferiu que o STJ definisse a questão. Os que acompanham o caso temem que ele se torne um “novo Pinheirinho”, terreno em São José dos Campos (SP) onde, durante uma reintegração de posse, houve conflito com os moradores, Polícia Militar e Polícia Federal. Isso principalmente porque “no litoral norte paulista ricos e pobres são posseiros. São raras as propriedades de terra ali”, conforme disse um dos observadores.
De acordo com a liminar do ministro Benedito Gonçalves, relator do Conflito de Competência, “as duas autoridades judiciais proferiram decisões díspares sobre quem devia ocupar a terra”, e por isso “a prudência recomenda que ambas as ações sejam imediatamente suspensas”. O ministro pondera que, se for executada a reintegração de posse, há o risco de destruição das benfeitorias à terra feitas pelos próprios quilombolas, como escolas, casas, fazendas etc.
Segundo pessoas envolvidas no processo, mas que falaram à ConJur sob a condição de não serem identificadas, o STJ está prestes a tomar uma decisão importante. Será esse Conflito de Competência, dizem, que definirá como deverá se comportar o Judiciário, federal ou estadual, no caso de conflitos de terras envolvendo comunidades quilombolas.
CC 129.229

domingo, 18 de agosto de 2013

JÁ É UM COMEÇO...

"Precisamos acabar com a reeleição no Brasil", diz Marina Silva ao CorreioIncensada após as manifestações de junho, Marina mantém-se viável para 2014, desde que consiga regularizar a Rede Sustentabilidade


Paulo de Tarso Lyra - Correio Braziliense
Publicação: 18/08/2013 07:35 Atualização:

 (Carlos Moura/CB/D.A Press - 23/4/13)
Grande surpresa na reta final das eleições presidenciais de 2010, quando deu um salto na semana decisiva e conseguiu quase 20 milhões de votos, Marina Silva volta a surpreender os analistas políticos ao ser a única que aumentou a intenção de voto nos levantamentos realizados após os protestos que sacudiram o país em junho. Antes de os jovens lançarem o grito “Vem para rua”, Marina era vista como uma candidata que tinha boa parte dos votos de 2010 herdados de um sentimento anti-PT e anti-PSDB e cujo partido, a Rede Sustentabilidade, seria sepultado com a aprovação de um mero projeto de lei no Congresso impedindo que as novas legendas conseguissem o tempo de televisão e o fundo partidário dos parlamentares recém-filiados.

Agosto de 2013 e tudo mudou. Até para o governo. “Marina é uma candidata consistente. Ela teve 20 milhões de votos, não tem partido, não tem cargo público e, ainda assim, tem 26% de intenções de voto. É perfeitamente possível que ela esteja no segundo turno nas eleições do ano que vem”, declarou um interlocutor governista.

A ex-senadora e principal expoente da Rede Sustentabilidade, Marina Silva, recebeu o Correio no fim da tarde de sexta-feira. Na conversa de quase meia hora, afirmou que os protestos de junho não podem ser resolvidos em uma mera pauta de reivindicações e sim, na construção de uma agenda de mudanças a longo prazo para o país, mantendo os pilares da atual política econômica. Ela garante que não pensa em se filiar a outro partido caso a Rede não se viabilize. Acredita ainda que a nova legenda está em condições de chegar ao poder. “Ninguém consegue 20 milhões de votos saindo pela primeira vez candidata (a presidente, em 2010) se não tiver um lastro da sociedade calçando esse processo.” (PTL)

Se a Rede não se viabilizar até 5 de outubro, o caminho natural será filiar-se a outra legenda?
Não trabalho com essa possibilidade. Estamos focados na viabilização da Rede Sustentabilidade. Entregamos tudo em tempo hábil. Não é justo que tenhamos feito um esforço deste e ele ser prejudicado em função das dificuldades que a Justiça Eleitoral está enfrentando.

Como estão as conversas com os aliados e os parlamentares que desejam vir para o partido?
Temos um processo de conversa aberta com as pessoas que têm identidade programática conosco. Mas não há de nossa parte uma ansiedade tóxica de inchar o partido a qualquer custo e a qualquer preço.

Surpreendeu o resultado das últimas pesquisas de intenção de voto?
As pesquisas são um momento em que os institutos são capazes de registrar. E devem ser vistas assim, não como algo definitivo. Os eleitores vão modulando suas posições de acordo com o debate, a dinâmica do processo político, que, infelizmente, foi antecipado.

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O homem mais feliz do mundo

Doutorou-se em genética molecular mas trocou a carreira científica por um mosteiro nos Himalaias. O francês Matthieu Ricard garante que a felicidade é uma questão de treino. O importante é começar já.

Bárbara Bettencourt
19 Abril 2012, 16:57

Ricard divide o tempo entre o mosteiro no Nepal, a escrita e a fotografia, outra das suas paixões. Foi condecorado pelo presidente francês pelo trabalho humanitário que faz através da organização Karuna-Shechen.
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Era para ser cientista mas acabou monge budista. Filho do filósofo Jean-François Revel e da pintora Yahne Le Toumelin, o francês Matthieu Ricard, 65 anos, cresceu no meio intelectual de Paris e doutorou-se em genética molecular. Aos 38 anos abandonou a carreira para ir viver nos Himalaias e tornar-se monge budista, mas o interesse pela ciência permaneceu.
Desde 2000 que é membro do Mind and Life Institute, que promove o diálogo e a investigação entre cientistas e budistas, e participa em estudos sobre a consciência e o treino da mente com investigadores de vanguarda. Numa das mais recentes os cientistas ligaram 256 sensores ao seu cérebro enquanto meditava e as imagens mostraram o mais alto nível de atividade alguma vez registado no córtex pré-frontal esquerdo, associado às emoções positivas. A escala variava entre +0.3 a -0.3 (beatífico) e os resultados de Matthieu Ricard situaram-se fora da escala por mais de -0.45. Foi a primeira vez no mundo que isto aconteceu.
É conhecido por ser o homem mais feliz do mundo. Porquê?
Receio que isso não seja culpa minha. Um jornalista lembrou-se de usar essa expressão, mas não corresponde à verdade. Surgiu no contexto das investigações científicas sobre os efeitos da meditação feitas pelo Instituto Mind&Life, nos EUA. Fui um dos participantes, mas houve outros e, de resto, os resultados são relevantes precisamente porque não se resumem a uma pessoa.
Em que consistiram essas experiências?
Basicamente no estudo do cérebro de monges experientes em meditação. Pegámos num conjunto de pessoas que nunca tinham meditado e ensinámos-lhes técnicas de meditação budista, que praticaram por um mês. Depois usámos eletroencefalogramas e ressonâncias magnéticas para comparar a atividade do cérebro dos monges e dos meditadores recentes durante a meditação. Nos recentes havia poucas diferenças, mas nos monges a meditação sobre a compaixão ativou de forma poderosa o lobo frontal esquerdo, que é a zona do cérebro associada às emoções positivas.
Quais são as implicações dessas experiências?
Mostram que é possível modificar padrões cerebrais – aquilo a que se chama neuroplasticidade – neste caso com o objetivo de sermos mais felizes. Já sabíamos que o treino modificava o cérebro em músicos ou nos taxistas londrinos obrigados a memorizar milhares de ruas. Agora sabemos que pode desenvolver zonas associadas à felicidade e ao bem-estar.
Podemos treinar a felicidade, é isso?
Sim. A felicidade é uma habilidade e pode ser cultivada. Eu não caí em nenhuma poção mágica quando era pequeno. O que conquistei foi graças a um caminho - o Budismo - que me permitiu aprender estas técnicas. Fui um adolescente perfeitamente normal, com todas as incertezas e angústias da idade. Não tive grandes dramas, mas estava confuso e, nesse sentido, não me considerava feliz. Na altura, a minha motivação era tornar-me um ser humano melhor.
Não encontrou respostas nas tradições ocidentais?
Não digo que não existam mas não as encontrei de forma satisfatória. Uma das razões foi porque as pessoas que via a ensinar não me transmitiam a coerência que vim  a encontrar no Oriente. Não é que fossem más pessoas, mas não eram especialmente boas, por isso tornar-me iguais a elas não fazia sentido. Quando conheci o Dalai lama foi diferente. Pensei ‘Como é que ele se tornou assim?’. Aquilo interessou-me, porque ele era um exemplo vivo de que os ensinamentos budistas funcionavam.
O que é que temos de aprender exatamente?
A felicidade é uma forma de ser. Se não somos particularmente felizes temos de aprender a cultivar essa forma de ser. Tudo começa por eliminar as toxinas mentais, como o ódio, a obsessão, o ciúme, a arrogância, o orgulho o desejo, enfim, tudo o que nos torna seres disfuncionais, e cultivar as qualidades positivas que integram a felicidade, como o altruísmo, o amor, a compaixão ou a criatividade. Isto faz-se trabalhando a mente. Aos poucos alguns desses venenos mais grosseiros começam a esbater-se e o resultado é uma espécie de liberdade grande ou felicidade.

"O mundo não é um catálogo de encomenda dos nossos desejos e nunca vai ser perfeito. Se vemos a vida dessa forma estamos em sarilhos"

 

Esses sentimentos não são o que nos torna humanos?
A questão não é negá-los. Quando falamos de emoções positivas ou negativas não é no sentido de virtudes ou defeitos, não há aqui julgamento moral. É no sentido de que cada uma destas qualidades contribui para um sentimento de florescimento e bem-estar. Uma emoção é má se nos provoca sofrimento.
Hoje em dia nunca sente emoções negativas?
Seria arrogante dizer isso, mas posso dizer que não sinto as mais negativas como ódio. Irritação sim. Mas sinto-as com muito menos intensidade e assim que surgem estou completamente consciente delas e possuo uma serie de métodos para lidar com isso. Não as nego. Por exemplo, quando vim para aqui atrasei-me devido ao trânsito e fiquei com receio de perder o comboio, o que iria deixar várias pessoas à minha espera…
O que podemos fazer em situações dessas?
Primeiro, perceber que a ansiedade é inútil. No meu caso, não me ia deixar menos atrasado. Depois, perceber que se deixar a ansiedade encher a minha mente vou ficar num estado miserável. Uma das principais qualidades da mente é a capacidade de permanecer consciente de si mesma. Isso permite-nos tomar consciência das nossas emoções. O que é isso de estar consciente da ansiedade? É algo diferente de estar ansioso, certo? Uma mente consciente da ansiedade já não é uma mente completamente ansiosa, está ansiosa e ao mesmo tempo consciente da ansiedade, logo, já não está completamente cheia de ansiedade, há uma parte dela livre disso. Se continuarmos a a tornar a mente mais consciente, a ansiedade vai perdendo força porque deixamos de alimentá-la. Não a bloqueámos, deixámos só que se desvanecesse. Quando ficamos familiarizados com este processo, as emoções continuam a aparecer mas com menos força e gradualmente levaremos cada vez menos tempo a dissolve-las.
Cultiva-se uma espécie de desapego em relação às emoções más?
Às más e às boas. Mas é preciso ter atenção: as pessoas confundem o desapego com a indiferença e acham que se trata de não ter sentimentos, não é isso. Suponha que tem uma experiência fantástica. Isso é ótimo, não há nada de errado com o prazer, mas se começamos a agarrar-nos a ele e a transformá-lo numa necessidade, converte-se num  tormento. O que acontece quando temos condições interiores para o bem-estar, é que ganhos e perdas, prazer e dor, sucessos e falhanços perdem relevância. Então, é fantástico se as coisas correm bem, mas não é um drama se correrem mal. O nosso controlo das circunstâncias exteriores é mínimo e no fim estamos sempre à mercê das nossas mentes.
Vive num mosteiro no Nepal. Trabalhar das 9 às 5 num escritório é mais ou menos desafiante?
 Claro que podem dizer que é mais fácil sendo monge, mas eu trabalho sete dias por semana no mosteiro. Gosto do que faço, não sei o que significa férias e ninguém me paga. Quando vou para a minha cela o meu trabalho é meditar, não é um emprego, mas é a minha ocupação.
Fez uma mudança  de vida radical…
Foi uma escolha. Antes de ser monge fazia investigação científica e gostava mas fui à Índia, senti-me melhor do que nunca e perguntei-me ‘Onde quero passar o resto da vida?’. Se estamos a fazer o que queremos está tudo bem. Hoje vivo numa cela de 2,5x por 2x9m, com uma vista fantástica sobre os Himalaias. Não tenho água quente, só uma malga e duas colheres, não sinto falta de nada. Consigo apreciar quando estou numa casa confortável, mas se não estiver também estou bem. Vivi 10 anos no Butão. O meu professor ensinava a rainha-mãe e um dia ela insistiu para ir no carro dela, um carro fantástico. Então lá ia eu de carro com a rainha-mae do Butão. No dia seguinte o meu professor mandou-me de volta ao mosteiro e tive de ir nas traseiras de um camião. Eram circunstâncias diferentes mas eu não sentia ‘Uau vou num Mercedes’ num dia para me sentir infeliz por ter de ir num camião no outro. Era divertido.
Há condicionamentos biológicos para a infelicidade?
Há predisposições que, numa pequena percentagem, podem ser genéticas, mas a epigenética ensina que os genes podem ser expressos ou não, ou seja, o facto de haver um master plan, o genoma, não significa que ele seja executado. É como ter um projeto de uma casa. Quando a construímos podemos fazer alterações. Também temos de contar com o ambiente: se crescemos sem amor, com abusos, é dramático porque somos logo forçados ao sofrimento. Mas ainda assim chega  um tempo em que podemos lidar com isso. Existe sempre um potencial para a mudança.
Nas pessoas habituadas a ser infelizes esse desafio é maior?
O essencial é perceber que  é sempre possível cultivar condições que nos ajudem a ser melhores. Quando estive a estudar na Universidade de Montreal havia um professor que costumava correr quando era novo. Começou a treinar novamente e o ano passado participou na maratona. A ciência demonstrou que a neuroplasticidade cerebral – a capacidade de mudar a estrutura do cérebro – é independente da idade. As pessoas mais velhas são perfeitamente capazes de mudar os seus cérebros com o treino. No Tibete há imensas histórias de pessoas que começaram a meditar aos 80 anos com ótimos resultados.

"A felicidade é uma forma de Ser que integra qualidades como o altruísmo e a criatividade. Podemos cultivá-las"

 

Porque resistimos à mudança?
É um grande mistério. Acho que temos um tipo de hesitação em olhar para dentro. Conheci gente nova que me disse ‘Não quero olhar para dentro, tenho medo do que vou encontrar’. É surpreendente. Não sei o que é que têm medo, mas contei isto ao Dalai Lama e ele disse ‘Há tantas coisas interessantes lá dentro. É melhor do que ir ao cinema!’. Há um fator determinante: a inspiração. Se temos uma razão para mudar é mais fácil. Pelo contrário, o maior perigo é desistir. Por um lado, as pessoas pensam sempre que podiam estar pior, por outro admitem que há coisas que gostavam de alterar mas acham que não é possível porque já são assim há muito tempo ou  é muito difícil. Por isso é que a primeira coisa a fazer é reconhecer o potencial de mudar. Porque a verdade é que qualquer treino tem sempre um efeito. Sempre. Há um bocadinho de inércia, esse é o principal obstáculo. Depois precisamos de algum interesse, e este só aparece se virmos um benefício. No meu caso, foi conhecer um professor especial, porque vi os resultados do treino à minha frente, não tive de acreditar porque alguém me disse.
Como reverter o paradigma do ‘não sou capaz de mudar’?
Primeiro temos que refletir nos aspetos que nos mostram que é possível mudar. Dizemos que a raiva ou inveja são parte da natureza humana. Mas há muitas maneiras de ‘fazer parte’. Se algo faz parte da natureza intrínseca de outra coisa é impossível alterar isso. Mas se não fizer parte intrínseca posso fazer alterações. Por exemplo, em essência a água é H2O. Se lhe adicionar plantas fica medicinal, se juntar cianeto torna-se mortal, mas continua a ser H2O, o que lhe acrescentei não faz parte da sua essência e posso removê-lo. Há algo parecido na mente. As emoções negativas são como o cianeto e as positivas como as plantas medicinais, mas existe uma qualidade da mente independente disso que se chama Consciência Essencial ou Luz Clara da Mente. Esta qualidade essencial é o que nos permite ter consciência das nossas emoções.
Temos de encher a mente de ‘emoções medicinais’?
Sim. Por exemplo, se a raiva é o meu principal problema, qual é o oposto da raiva? Benevolência. Se eu cultivar a benevolência, enchendo a minha mente com este sentimento, talvez ele se torne mais forte e neutralize a raiva, porque os dois são mutuamente incompatíveis.
Não é possível ter emoções ambivalentes?
Não, o que chamamos emoções ambivalentes são de facto emoções contraditórias, mas não ocorrem ao mesmo tempo embora a oscilação possa ser muito  rápida. Sempre que sentimos, nem que seja por um segundo, amor e simpatia, não podemos querer fazer mal. O que há a fazer, é aumentar o tempo em que nos concentramos nas emoções positivas e isso é uma questão de treino.
A meditação tem efeitos sobre o sofrimento físico?
Há um filósofo suíço chamado Alexandre Jollien que fala disso. É uma pessoa fantástica, fabuloso filósofo, mas incapacitado fisicamente. Hoje é  um orador inspirador mas conta que todos os dias nos transportes alguém o ridiculariza. Não é fácil, ele odeia o seu corpo de certa maneira, apesar de ter ganho paz acerca disso. Nos problemas mentais pode ser mais difícil, mas a depressão é um campo onde a meditação pode ser muito poderosa. Há muitos estudos sobre isso. Obviamente é difícil começar a meditar quando se está no pico de uma depressão porque não se tem vontade, mas nas pessoas que já tiveram pelo menos dois episódios e estão realmente fartas daquilo os programas de meditação baseada na atenção plena reduziram em 40% o risco de recaída.
Se deixamos de meditar os efeitos  perduram?
Perduram porque mudaram a nossa maneira de Ser. É como andar de bicicleta. Sempre que dominamos uma nova capacidade ela fica adquirida, ainda que o treino melhore o desempenho. Para aprender a andar de bicicleta tivemos de alterar circuitos neuronais, o mesmo acontece quando meditamos. No fundo, meditar é aprender uma forma diferente de experienciar o mundo. Quando estou a trabalhar não estou a meditar, mas em quase todos os momentos uso capacidades que adquiri na meditação e assim continuo a reforçá-las. Fazendo isso a vida torna-se parte da meditação.
Muitos começam a meditar e desistem. A felicidade dá trabalho?
Sim, mas é um esforço gratificante. A meditação inicialmente pode não ser divertida. Há uma expressão de tibetana que diz “No início nada vem, no meio nada fica, no fim nada vai embora”, ou seja, no início não vemos os benefícios, é quando podemos desistir; no meio vemos alguns, mas depois deixamos de ver outra vez; no fim atingimos o objetivo e nunca mais o perdemos. O tempo destas fases varia de pessoas para pessoa, mas só o facto de começar a meditar já é raro nos dias que correm.
A felicidade faz parte da natureza humana ou foi uma conquista evolutiva?
Pessoas infelizes têm menos iniciativa e até menos interesse em reproduzir-se pelo que em termos evolutivos ser infeliz não é uma vantagem para a espécie. É um facto que em termos gerais, as pessoas dizem que, apesar de tudo, estão mais satisfeitas do que não satisfeitas com a sua vida. Não estamos sempre deprimidos porque isso não seria bom para a espécie. É o que dizem os evolucionistas.
Essa satisfação mediana não é o conceito de felicidade budista…
O meu conceito de felicidade não se limita a uma satisfação mediana nem se confunde com o conceito de prazer. O prazer depende das circunstâncias, pode contribuir para a felicidade ou ir contra ela. Adoro música clássica, mas ouvir 48 horas de chopin non stop é um pesadelo. Também podemos sentir prazer a torturar pessoas. A felicidade é quase o oposto. É algo que está ali, independentemente do sofrimento ou dos prazeres passageiros. Quanto mais nos confrontamos com os altos e baixos da vida, mais a reforçamos porque ficamos menos vulneráveis às circunstâncias exteriores.
Podemos ser felizes sabendo que outros sofrem?
A tristeza é incompatível com o prazer mas não com a felicidade. Podemos estar tristes sabendo que há pessoas a morrer à fome mas não temos de estar desesperados e podemos ficar determinados a ajudar. Neste sentido a determinação em fazer algo para acabar com o sofrimento faz parte da minha felicidade.
E é possível ser feliz quando somos vítimas de violência?
Para a felicidade é muito pior fazer mal aos outros do que nos fazerem mal a nós. Não quer dizer que temos de ser passivos se nos agredirem, mas se não pudermos evitar só temos de lidar com isso. No fundo, felicidade é usar todas as circunstâncias de forma construtiva.
Então ser infeliz é uma escolha?
É uma escolha a longo prazo, não  agora. Se algo mau acontece e não estamos treinados para lidar com isso, não temos escolha senão ficar angustiados. Podemos, a longo prazo, aprender a lidar com isso. Não temos que nos sentir cupados. A escolha que temos é começar um processo de mudança.
Vivemos em sociedades que nos fazem infelizes?
Há um estudo de Michael T. Kasser que mediu os níveis de consumismo de centenas de pessoas por 20 anos e concluiu que quanto mais alto menos felizes somos. Não se trata de um julgamento moral mas de uma constatação. A mentalidade consumista leva à procura dos prazeres imediatos, o que não traz felicidade. Atualmente os miúdos de dois anos já são inundados de anúncios. Isto é eticamente errado e um começo tortuoso para a felicidade.
Uma cultura de meditação pode criar gerações mais felizes?
Pessoas com mentes treinadas poderão fazer nascer crianças mais propensas a serem felizes. A cultura e a educação têm uma influência determinante na forma como o cérebro se começa a moldar.
Um budista tem mais probabilidade de ser feliz do que um cristão ou ateu?
Se aplicarmos os valores do amor e da compaixão chegamos ao mesmo sítio. São Francisco de Assis encarna todos os princípios budistas. O Dalai Lama disse uma vez que no budismo não achamos que exista um criador mas quem acredita tem de amar os outros, que são também produtos de Deus. Quando foi a Montserrat, na Catalunha, ver um eremita numa gruta, perguntou-lhe ‘Sobre o que tem estado a meditar na sua vida toda?’. Ele respondeu ‘No Amor’. E emanava tanto amor que o Dalai Lama ficou realmente inspirado. No fundo não há assim tanta diferença.