O título deste artigo é a manchete que foi publicada na mídia e na
blogosfera. A mídia acrítica e a blogosfera repercutiram tudo, sem quaisquer
questionamentos, demonstrando um ambiente completamente idiotizado. Sintetizo
abaixo, de forma resumida, o que foi relatado. Na sequência faço alguns
comentários que me parecem relevantes sobre as causas da falta de sentido
crítico da mídia.
“A produção de uma xícara de café exige 140 litros
d’água, anunciou a organização de proteção do meio ambiente Fundo Mundial para a
Natureza (WWF), em comunicado divulgado dia 13 de março último à margem do Fórum
Mundial da Água, celebrado em Marselha, sul da França. A ONG calcula quantos
litros são usados na produção da bebida, desde seu cultivo até a fabricação da
xícara. Assim, uma xícara de café equivale ao gasto de 140 litros de água,
dependendo do material do recipiente e da origem do açúcar.
A organização ambientalista aplicou um indicador
elaborado pela Universidade de Twente, na Holanda, para registrar a ‘pegada
hídrica’ da xícara de café, que leva em conta o impacto de toda a cadeia de
produção na fonte de água doce.
O cálculo de 140 litros para uma xícara de café
compreende, segundo o WWF, a água usada no cultivo do pé de café, na colheita,
no transporte, na venda e no preparo, explicou a ONG. O indicador inclui, ainda,
o volume d’água necessário para a fabricação da xícara em que se bebe o
café.
Se forem adicionados leite e açúcar ao café, e se um
copo de plástico for empregado para servir a bebida, ‘a pegada hídrica’ de uma
xícara de café passará para 200 litros, com variantes se o açúcar for branco,
procedente da beterraba, ou mascavo, da cana-de-açúcar, acrescentou.
ONU alerta sobre ameaça de falta de abastecimento de
água. O Fórum Mundial da Água começou em Marselha ‘de olho na Rio+20’.”
Alguns comentários
Esse é o perigo: deram uma calculadora para algum ambientalista, talvez com
talento para ser economista, mas sem nenhuma visão holística, ou sistêmica e sem
nenhuma percepção do que é o todo. O resultado é semelhante ao de se entregar
uma metralhadora nas mãos de uma criança com raiva. Da mesma forma é o resultado
de se entregar um espaço jornalístico, na mídia eletrônica ou impressa, a
jornalistas despreparados para a função e para a vida.
A premissa dessa questão é o paradigma de que vai faltar água potável (água
doce) para abastecer os 9 bilhões de pessoas que teremos no planeta dentro de 25
ou 30 anos, pois apenas 3% da água existente no planeta é doce, e 97% é salgada.
Primeiro erro: esqueceram (os ambientalistas mal intencionados e os jornalistas
mal informados) de que o planeta Terra deveria chamar-se planeta Água, pois
somos mais de 4/5 de água, incluindo os oceanos, é claro. E de que água não
acaba (não existe na química ou física, à exceção da eletrólise, algo que faça a
água sumir). A mesma quantidade de água que existe hoje, existia há 2 ou 3
milhões de anos atrás. E a água se recicla permanentemente, sempre nos 3
estágios que conhecemos: líquido, sólido ou gasoso.
Segundo erro: a calculadora do economista-ambientalista (que é holandês)
ensandecido partiu de uma estatística feita em países com pouquíssima água (como
Israel e Espanha). Nesses, o problema da água é crítico: “descobriram” que 70%
da água consumida era usada na irrigação, para agricultura e pecuária, 20% pelas
indústrias e 10% por consumo humano. Entenderam (na verdade, decidiram...) que
isso levaria ao caos do planeta. Dever-se-ia economizar água na agricultura e,
portanto, os perdulários dos produtores rurais teriam de ser contidos a qualquer
custo. Daí para campanhas que atacam o consumo de água pelo boi, e agora pela
xícara de cafezinho, foi um pulo muito pequeno. Ignoram que o boi faz xixi.
Esquecem que bebe água de chuva, mas calculam como débito a água da chuva, no
pasto e no cafezal, como “água gasta, consumida”. Na tal calculadora, não há
créditos.
A água não vai para o “quinto dos infernos”
Terceiro erro: o critério de “pegada hídrica” desenvolvido pela Universidade
de Twente, na Holanda, não tem aceitação internacional em nenhuma outra
universidade, pois utiliza métodos estapafúrdios e emocionais, sem base na boa
ciência. O referido indicador nem é polêmico, ele simplesmente não é aceito como
ciência. Desta forma, o WWF pega um factoide monstrengo, acrescenta comentários,
e a mídia digere e divulga acriticamente todas as besteiras inconvenientes.
Neste ínterim, passamos aos “controles e à gestão da água”, eis que para
irrigar sua lavoura o agricultor (principalmente o brasileiro) deve fazer
“estudos de impacto ambiental”. Numa boa, ambientalistas e especialistas de
água, como que surgidos do nada, passaram a faturar uma graninha extra em
consultoria e as agências reguladoras proliferaram mundo afora. Não se financia
um
pivot de irrigação sem que haja um “estudo de impacto ambiental”.
Fazer uma barraginha ou poço artesiano é quase um crime ambiental. Se a gente
contasse isso para um visitante extraterrestre ele iria embora em definitivo...
As
finesses e firulas do raciocínio ambientalista, tipo se for açúcar
cristal branco ou mascavo, são hilárias, mas tentam dar embasamento ao “estudo
científico”. Como diz o ex-ministro Delfim Netto, toda estatística bem torturada
confessa qualquer coisa...
Ora, água é vital à vida. Por isso os cientistas procuram sinais de água em
planetas pelo universo infinito. Até o ponto de achar que a água é vital a gente
concorda com os ambientalistas. O que se deve ter em mente, de forma clara, é
que o consumo de água, em qualquer situação, seja agrícola ou industrial, não
“gasta” água, apenas interfere em seu processo. Quando usada na agricultura, na
forma de irrigação, ou também por chuvas, como é calculada na métrica neurótica
e emocional dos ambientalistas-economistas, a água não vai para o “quinto dos
infernos” como costumo afirmar em conversas com amigos. Essa água revitaliza o
solo, dá sustentabilidade à produção de alimentos, é filtrada em suas impurezas,
e vai para o lençol freático. Dali retorna para os rios ou vai para os
aquíferos, e destes para os mares. Nos mares haverá evaporação, que são as
nuvens, e estas, depois de centenas ou milhares de quilômetros percorridos, em
chuvas. É o destino de toda água, em todo o planeta, inexorável, queiram ou não
os ambientalistas.
Querem governar o mundo
Portanto, quando o homem interfere no ciclo de vida da água (doce) e faz com
que cada gota de água demore mais tempo para chegar aos mares, estará
beneficiando e dando sustentabilidade à vida. É simples e cristalino. Ao
contrário disso, os urbanos, especialmente em grandes núcleos populacionais,
emporcalham a água de seus rios com esgotos, resíduos e entulhos, tornando esses
rios poluídos e sem vida. Com uma agravante perversa: as grandes cidades não
possuem lençóis freáticos, pois estão asfaltadas, cimentadas e azulejadas. As
árvores não têm espaço para receber água em suas raízes e por esta razão desabam
com ventos um pouco mais fortes. Como há pouca evapotranspiração, as cidades são
mais quentes e por isso recebem mais chuvas, para esfriar. Mas quando chove, as
águas não penetram no solo impermeabilizado, rolam céleres para os rios
poluídos, inundando tudo pelo caminho.
Insanidade humana e ambiental! Não há dúvidas de que os
ambientalistas-economistas são urbanos, trabalham no ar condicionado de seus
gabinetes, fazem três refeições ao dia e nunca se perguntam de onde vêm os
alimentos que consomem. Estes são comprados no supermercado do bairro, e isso é
o suficiente para eles. Da mesma forma, os colegas jornalistas que repetem as
ensandecidas invenções das “pegadas hídricas”.
Na visão e opinião dos ambientalistas urbanos, e também de alguns jornalistas
mal informados, o produtor rural é um criminoso ambiental. Por isso ele precisa
ser execrado e queimado em praça pública, como exemplo... Já escrevi sobre isso
dúzias de vezes, chega a dar cansaço mental repetir as mesmas coisas e um
desânimo enorme ver que os ambientalistas, ainda por cima, se acham no caminho
certo e possuem a certeza de que ganharão o reino dos céus pela sua luta verde.
Eles querem a punição de todo agricultor que plante em pé de morro, através do
Código Florestal, por exemplo. Querem proibir e proibir. Esquecem que o que
desaba e desmorona é morro urbano desmatado, mal urbanizado, com construções sem
fundações, nas chamadas favelas. Com esse raciocínio desequilibrado
encaminham-se para fundar uma sociedade ambientalista supranacional. Querem
governar o mundo! E aquilo que imaginam e especulam hoje poderá virar lei no
futuro.
Vejam que cálculo ridículo, qual o sentido prático de saber que uma xícara de
cafezinho de 60 ml gastou 140 litros de água? Eles que parem de tomar cafezinho
e de comer suas picanhas. Assim não se sentirão culpados, pois quem sente culpa
e quer punir a todos por isso não ganha o reino dos Céus...
Pai dos Céus, perdoa-os, eles não sabem o que fazem! Mas manda esse pessoal
pensar, ao menos isso! E que a mídia não replique essas bobagens!
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[Richard Jakubaszko é jornalista, publicitário e escritor]